quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O que eu não souber escrever, me conte.



Eu queria que alguém me contasse sobre aquele amor, principalmente sobre aquele moço da última avenida daquela cidade tão caótica. Sim, pois, ele ainda habita por lá, ou não ? 
Ah quantas recordações tenho daquele amor de ataques cardíacos que um dia coloriu o pulsar do meu ser tão errante. Quem será que poderia me contar sobre e para onde se foram todas as cartas que acabaram se manchando na minha gaveta, sobre o alvoroço dentro de mim quando ele vinha cheio de versos e dizia : ' Minha pequena o mundo é nosso ' ? Quem ? Será que tem alguém que saberia viver outra poesia como aquela e não sonhar com uma eternidade florida meu caro poeta ?
Eu sei, eu sei muito bem que o erro foi eu ter pintado demais a moldura do amor, mas onde e como eu poderia imaginar que aquele mesmo moço que me fazia ser folia tinha uma proeza para disfarçar a crueldade de destroçar os corações alheios. Eu não conhecia o dom do fingimento até então. 
Eu queria ouvir sobre nós, sobre o tempo das roseiras mais floridas e do céu cintilante que me fez sonhar com asas que eu nunca tive, queria voltar a caçar estrelas e suplicar que agora elas atendam os meus pedidos sem falhas. 
Queria meu caro e nobre poeta encontrar alguém que me falasse que o amor não é uma coisa ruim e que  esses deslizes e decepções acontecem mesmo, assim sem controle. Será meu amigo que alguém sabe realmente para onde foi o meu sorriso ? Aquele, daquele tempo... Você ainda lembra ? Pois é, as fotografias me mostram que apesar de não passar de uma ilusão eu fui feliz. Quem pode me contar sobre essa felicidade a tanto tempo perdida ? 
E ele ? O moço, será que ele cansou da poesia que deslizava sem esforço pelos seus lábios ? Será que ele continua um ser ilusório e destrutivo ? Eu não sei poeta, faz tempo que pisei por lá e que vi aqueles olhos, olhos negros, avassaladores e crueis. 
Talvez nunca exista alguém que me fale sobre todas essas coisas que eu vivi e tenha vontade de escrever assim como eu. Pena que minhas canetas se recusam a escrever sobre eu e meu caso antigo, meu tropeço. 
Porem poeta, caso um dia você encontre por aí alguém com sonhos iguais aos meus, com um coração tão cheio de bondade como o meu e um bloquinho de papel na mão, pede pra esse alguém escrever sobre eu e ele. Fala que foi muito bonito, que foi mágico, fala que foi poesia. Não conta que foi mentira, não estraga um verso, deixa ele acreditar que uma história só é triste se só enxergarmos o lado ruim. Apesar de tudo você bem sabe que meu coração emana amor, não sabe ? Então, faz alguém escrever o que eu não sei e volta pra que eu não me perca.



Mayanne Gilnária