domingo, 17 de abril de 2011

Simplesmente crescendo.



Estou jogando fora todas as manhãs de primavera, elas foram apenas capas soltas a cobrirem uma solidão atordoada que sempre me visita. Sempre degusto dos piores males que sem piedade o destino coloca-os no meu colo e eu que me vire com as causas de mais um tempo ruim.
Estou tão amarga que a sensibilidade de chorar não me toca, as lágrimas dançam como ondas nervosas de um oceano só meu, mas não quebram nas pedras de suporte que inutilmente reservei para determinado propósito, é tudo terra seca de um nordeste que nunca acabou e eu sigo com a presença enxuta de amores incertos, casos indiscretos, jeito enfadonho de ser eu.
Queimei os papéis que indicavam como viver bem, realizar sonhos e todas as instruções que não fazia sentido perder tempo folheando-as, a fumaça circulava no teto do meu quarto e minha vontade de tragar os restos de  passado que se iam me fizeram desabar arduamente em vícios de sexta-feira que tudo se pode, talvez com novas tentativas eu me sinta contente e totalmente feliz por retirar algumas farpas do meu peito tão perfurado estilo queijo suíço cheio de bolores que já nem fazem diferença.
Atrair-me por imperfeições comuns é meu fardo de ter que aprender a suportar objetos e pessoas diluídas em um copo tão pequeno que deixei perto do despertador, mas hoje também estou esvaziando esse reservatório inútil que não mais desaguará na fonte de uma vida que busca o novo em constantes circulares de náuseas nervosas.
Talvez eu até goste dessa sensação ruim de me encontrar, é através dela que cheguei a conclusão de que essas flores já não perfumam a minha casa, não estou nenhum  pouco preocupada também com o cheiro de folhas que acabaram de cair e se amontoaram no meio do lixo que minhas mãos decididas simplesmente irá joga-lo fora sem vasculhações... Não há lágrimas e o show começou uma hora atrás... Sim, foi no meio de 60 minutos que decidi mudar, deixar de lado bobagens dos velhos tempos pintados em álbuns de fotografias amareladas que também se vão.
Chega de lembranças... Afundo-me na tristeza que agora me faz escrever sem me preocupar com quem ficou ou se foi... Tudo passa, eu sei, estou crescendo.


Mayanne Gilnária

Você ainda está aqui... Quer dizer eu estou.



Faz tanto tempo que todas as nossas máscaras foram postas ao chão e eu te amei na minha rua. As nossas lembranças estão virando o meu único refúgio para não te esquecer, ou talvez eu nem queira que o super bonder perca a fixação que nos prendeu um dia na calçada, acho até que a única coisa que preciso são desses retalhos que costuram meu coração que há tempos você esqueceu de cuidar.
Alimentar os pensamentos que correm é um tanto errado, e eu tenho consciência disso, mais eu já perdi as forças de te negar em mim, porque tudo para no mesmo ponto que desisto, é como se todo o seu jeito torto de sorrir prendesse as partes que de mim saem a sua procura em cada pedacinho da sua boca que tinha o frescor de um campo florido que me fazia estar em casa, nada mais tenho a fazer se não me render... Me rendendo posso chegar aos seus braços novamente e na minha velha morada ver que o céu ficou estrelado novamente, porque também faz tempo que as estrelas sumiram. 
Com o decorrer desses dias eu aprendi um jeito lindo de chorar, eu fico no escuro lembrando que tínhamos promessas boas para um futuro juntos, eu revejo nossos sonhos numa mesma fita de um cetim que ainda possui brilho, eu vejo você me amando como na primeira vez que nos escolhemos.
As vezes você está tão perto... Os meus braços ficam lá, buscando alguma forma de te tocar por acaso e quantas vezes você ficou ao meu lado e mesmo assim senti que a distância que nos separava não acabaria com um toque do meu dedo... Então foi aí que concluí que estar distante é estar muito perto, é um perto sem estar... É um eu que não te toca, que não te deixa e que te ama sem te ter. 
Faz muito tempo que fugimos, que tento escapar de tudo que te pertence, que recuo nas tentativas frustradas de não te levar comigo, que te amo em segredo até o fim. Sei que estou fazendo tudo errado, mas não consigo agir de outra forma mesmo acreditando que é muito cedo para dizer que não damos certo.
Faz muito tempo que continuo a te esperar na mesma calçada com a cola na mão... Volta pra casa, se gruda, me junta a ti ou sei lá... Fica mais perto sem ser da forma distante de ser meu.


Mayanne Gilnária