segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Moço, volta e me refaz !



Meu melhor está aí esquecido na prateleira do mercado fechado, a quitanda do Seu Zé não aceita as minhas migalhas do amor que sobrou, ele fala que o moço estragou minha melhor parte e que tudo meu agora é nostalgia com um sabor feito fel. 
Apagaram o doce que existia no meu olhar de menina, as nuvens mudaram de sentido e nunca mais choveu por aqui. Ando inventando personagens e sorrio para os sábados vazios que se iludem ao acharem que estou feliz. O novelo só tende a crescer e o Seu Zé não aceita pedaços, ele diz que temos que saber ser gente grande por inteiro, então como é que eu faço pro moço devolver minha metade ? 
Quando num momento de tranquilidade desfruto o sabor de viver sem ele, a triste observação de que estou sendo mutilada oprime meu coração, retomo a cena em que seria nosso fim e com respingos do meu próprio sangue desenho uma manhã de primavera que não convence nem meu eu iludido. 
Seu Zé já me avisou que de nada vai adiantar meus passos apressados se estou seguindo uma miséria que só destroça cada vez mais meu coração, só que ele não entende que aquele moço mudou de região e está a chover em outro encontro. Seu Zé fala que é ilusão minha achar que as coisas se perdem com simples trocar de ponteiros, e eu já acho que tudo escorre em um simples girar de torneira. 
Eu sei que vou ter que me carregar assim mesmo, com palavrórios vazios, amores sórdidos e sentimentos de poucos minutos até Seu Zé deixar eu ficar quietinha perto do lugar onde o moço me abandonou. Vai que ele me ver de longe e me toma pra si de novo, vai que as nuvens voltam, o mercado abre e eu volto a ser eu de novo ! Nunca se sabe e eu estou querendo pagar pra ver. 
 
 
 
 Mayanne Gilnária

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Cintilando entre estrelas...



 
Ele é só um fantasma  que ainda brilha no escuro, ele faz escorrer em mim as estrelas que cintilam no breu de um céu acovardado e eu vago no cintilar de pertencer a ele outra vez.
O moço esqueceu seus silêncios aqui e como em uma sinfonia bem ensaiada eu pude ouvir todas as vozes que se ocultaram a tanto tempo atrás, beijo sua fotografia e é como se as coisas não estivessem mudado, percorro essa história amarelada onde as incertezas imperam pois sabe-se lá qual será nossa sina, eu só me entrego.
Vaguei-o por entre os sorrisos dele que as vezes me assustam, a penumbra de seu corpo a flutuar sob meu espaço me entorpece e eu deleito nessa paz misteriosa de saborear o restante das estrelas que não caíram. Subitamente ele me energiza e a razão se desfaz com um simples toque do que não existe. 
No tremular do tempo as ciladas severamente cumpridas mancharam a luz que iluminava nosso mais sublime sentimento, escuro, escuro e mais escuro. Eu e ele em um vazio estrelado, sem lua, sem futuro, porem com ilusões que fazem com que nos encontremos sem grandes por ques. Ele tão fantasma e eu tão passado. 
Nós vivemos num ontem não acabado e é muito clichê dizer que isso me faz bem, ele vem sem me avisar da mesma forma que se vai sem eu saber bem o porque, tento me aninhar na sabedoria de uma solidão filtrada e covardemente ainda choro pela não perspectiva de um futuro a dois. Certo que ele só precisa sorrir no escuro novamente, mas todo mundo sabe como é triste quando só o amor não basta. 
O escuro aos poucos vai clareando e ele some. Eu finjo não acreditar que ele veio e me tatuo de falsos poetas que me levam a duvidar ainda mais que nós podemos existir algum dia na claridade de um novo céu que ainda não resplandeceu. Não me acovardo e sei que o sumiço dele não será para sempre, pois como eu já disse ainda algumas estrelas não caíram. 



Mayanne Gilnária